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Madeiras

Como seria possível tirar som das madeiras? Transforma-las em instrumentos sem conhece-las? Impossível! Este é um processo de convívio. Só a lida diária com este material maravilhoso que a
natureza nos dá pode nos trazer a intimidade necessária para escolher um ou outro pedaço para esta ou aquela função.

No caso específico dos instrumentos de cordas temos um complicador: como a tradição de fabricação é toda européia, começamos por utilizar as madeiras disponíveis lá para fazer os instrumentos aqui. Importadas ou nacionais, cada uma apresenta suas características próprias e requer um tratamento diferenciado.

Um cuidado insubstituível é a secagem. Todas devem estar o mais secas possível antes do uso. A secagem em estufas não dá o mesmo resultado da secagem natural. E até mesmo o momento do corte da árvore faz diferença no resultado da madeira. Os antigos madeireiros de nossa região diziam, “para se obter madeira de boa qualidade, só se deve cortar as árvores nos meses sem R". Ou seja, maio, junho, julho e agosto. Quando analisamos melhor verificamos que o que fundamenta esta crença é o fato de este período do ano ser o de menor precipitação pluviométrica em grande parte do Brasil. Assim, neste período, as árvores estarão com menos fluidos em seu tronco.

Apesar de toda a diversidade disponível em nossas florestas tropicais, só recentemente houve a preocupação de se estabelecer quais espécies são similares às tradicionais e quais outras as substituem ainda com vantagens. Estudos foram feitos pelo IPT-USP no sentido de levantar as espécies utilizáveis comercialmente. Pesquisa de equivalência foi feita por uma parceria entre FUNARTE - IBDF. E muitas iniciativas individuais por parte de vários luthiers têm sido feitas, embora o músico consumidor do produto final resista em aceitar o instrumento feito com a madeira não tradicional.

Nesta trajetória de aprender sobre as madeiras e decidir qual delas usar para se obter o melhor resultado possível (acústica, estabilidade mecânica, durabilidade e estética), não posso deixar de citar aqui três mestres da marcenaria com os quais muito aprendi em longas conversas cheias de conselhos e exemplos práticos, que me deram as bases para o conhecimento deste nobre material: Sr. Heraldo Ramos, marceneiro modelador que se aposentou na modelagem da Cia Belgo Mineira, em Sabará (coincidentemente presidente da Sociedade Musical Santa Cecília e músico de sua Banda por longos anos), Sr. Edyl Lourenço, marceneiro formado pela Escola Técnica de Minas Gerais com menção honrosa, hoje dedicado à construção de estojos para instrumentos musicais e Sr. Fernando Fé, marceneiro formado pelo Senai de Sabará, já falecido, que nos últimos anos de sua vida era procurado por ser um dos poucos a executar trabalhos em madeira maciça na era do compensado.

Fique esclarecido que não existindo dois pedaços da mesma madeira que se apresentem idênticos, o objetivo das amostras que aqui seguem é de apresentar algumas nuances peculiares dos “veios” das madeiras que mais uso em meus instrumentos, descontadas as distorções de cores das fotos e suas reproduções.

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